terça-feira, 29 de maio de 2012

UMA SAGA CONTADA - LEANDRO BAHIAH



O Triste Rio Novo

     
 UMA SAGA CONTADA

Leandro Bahiah

I 

Vejo muitíssimos indícios

  Matas habitadas por índios

  Restaram apenas os resquícios

  Da coragem dos ameríndios.


II 

Era passagem de tropeiro

De viajante, mascate solitário

Pessoas ganhando seu honesto dinheiro

Molhando-se no frio orvalho.

III 

Vieram os desbravadores

Fundaram nossa Ibitupã

Com seus poucos valores

Lutando a cada manhã.

IV 

Na política só submissão

Contentando-se com migalhas

Política arte da corrupção

Isso de agradam canalhas?

V 

Depois vieram os poderosos

Apoderar da nossa riqueza

Com seus jagunços criminosos

Acabando com a selvagem beleza.

VI 

Então veio ''Mané Leonço´´

Homem de grande poder

Munido de terrível jagunço

Desmandando a seu bel-prazer!

VII 

Filhinho acabou sendo morto

Por um pedaço de terra

Jagunço sedento e louco

Iniciando uma horrível guerra!

VIII 

Foi cercado Candinho

Foi um tiroteio arretado!

Preso dentro do armarinho

Jagunços pondo fogo pra todo lado.

IX 

Tudo se resolvia na bala

Terra sem lei vida Severina

Quem tinha juízo se calava

Ou morreria na boca da carabina.


Desde quando eu era criança

Saia na linda procissão

A cantar, tendo fé e esperança

Pedindo a São Roque intercessão.

XI 

Desde quando eu era criança

Jamais fui a Budapeste

Ó que belíssima festança

São Roque livre-nos da peste.

XII 

Em Agosto lá para o dia Dezesseis

A festa é comemorada

Aonde vai pobre e burguês

Minha singela morada.

XIII 

E lá para o final do mês

Chega a Festa de Largo

Patrão torna-se freguês

E os fiéis saem do armário.

XIV 

Tem a afamada Cavalgada

Um monte de atrações

E os amantes da Vaquejada

Demonstram suas emoções.

XV 

Vem pessoas de todos os Estados

São três dias de alegria

Pra curtir a Festa de Largo

Em Ibitupã Bahia!

XVI 

Terra de poetas ocultos

Artistas que não tem valor

Lugar dos cantores mudos

Ao invés de teatro, só ator.

XVII 

Tivera “Explosão do Momento” 

Hoje caminhando “Nazzueira” 

Apenas, contudo lamento

Ver algazarra, bobagem e bebedeira.

XVIII 

Terra de Péricles Kinho

Inspiração de Leandro Bahiah

Artista sem palco, sozinho

Feito cantor sertanejo sem par.

XIX 

Venha pra Ibitupã passear

E verá como é gostoso

E com um ibitupaense namorar

Não se esqueça de banhar-se nas águas do Rio Novo.

XX 

Conheça a bondade da nossa gente

Visite a Ponte do Criminoso

Conheça a solidariedade da nossa gente

Não se esqueça de banhar-se nas águas do Rio Novo.

XXI 

Faça um piquenique

Na intrigante Serra do Mone

Aqui ninguém faz trambique

Lá onde à lua cheia se esconde.

XXII 

Caso queira conhecer outro lugar

Ouvir lendas de caça ao tesouro

Você não irá se desanimar até encontrar

A abençoada Região do Ouro.

XXIII 

Tem ainda o nosso Garapa

Cheias de pessoas humildes

Todo ano vão pra Bom Jesus da Lapa

Rezar pelas pessoas tristes.

XXIV 

Se preferir ainda tem

A querida Serra da Lontra

Mas se nem tudo lhe convém

Apresento-lhe a Cabocla com muita pompa.

XXV 

Hoje ainda tem escravidão

Em algumas fazendas ibitupaense

Trabalhadores vítimas de exploração

Cadê as autoridades Ibicuiense?

XXVI 

Os trabalhadores são humilhados

Não tem jornada fixa de trabalho

Não tem horas extras e nem feriados

Só apenas um mísero salário.

XXVII 

Infinito Deus o que irá acontecer

Com esses trabalhadores pobrezinhos?

Sem justiça a padecer...

Nas mãos destes fazendeiros mesquinhos.

XXVIII 

Trabalhador cadê vossos direitos?

Oh, triste lugar da desinformação!

Brasil teus filhos são leigos

Uma grã vergonha para Nação.

XXIX 

Porque quem tem informação

Ficam de braços cruzados

Fingindo que é normal esta situação

Rindo destes míseros explorados.

XXX 

Quando presencio esta desgraça

É melancólico o meu desabafar

O meu insignificante grito sai de graça

E o carrasco vive só a enricar.

XXXI 

Que azul penetrante celeste

Denuncie a autoridade competente

Não quero ser marionete

Servindo de espetáculo circense.

XXXII 

O maior pecado é a omissão

Eu defensor dos humilhados

Peço coragem a Deus e ação

Porque os humilhados serão exaltados.

XXXIII 

Sonho em tiver independente

Minha Ibitupã querida amada

Sendo caridoso com a minha gente

Jamais se esqueça da cicatriz sarada.

XXXIV 

Amaremos os estrangeiros

Daremos valor aos nossos artistas

Pondo ordem aos desordeiros

Cantando canções antigas.

XXXV 
Contarei tua saga
Em haicai, prova e cordel
Minha gente amada
Meu pedaço de Céu!

XXXVI 

Eu bacharel da vida

Graduado na solução da dor

E que Nossa Senhora Aparecida

Faça com que tu enxergues o amor.

XXXVII 
Pretendo criar os meus filhos
Perto da minha gente
Rever os meus amigos
E viver dignamente.


XXXVII 

O progresso virá com certeza

Mas a passos de tartaruga

Preocuparemos com a Natureza

E não mudaremos de postura.


XXXIX 

Lapidarei tua face

Denunciarei a tua injustiça

Onde o elo do enlace

Por Ti não abaterá preguiça.



XL 

Tenha um feliz aniversário!

Uma belíssima manhã

Respeitando o adversário

Parabéns Ibitupã!

Um comentário:

  1. Leandro, parabéns pela linda poesia, ela relata com clareza o passado. Nasci em Ibitupa em 1930, de lá sai em 1945 e presenciei tudo que vc escreveu. Fiz também um vídeo sobre a origem de IBITUPA e cheguei a fazer também um cordel falando sore aquela época, Valeuuuuu..Valdi Cajaiba.

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