UMA SAGA CONTADA
Leandro Bahiah
I
Vejo muitíssimos indícios
Matas habitadas por índios
Restaram apenas os resquícios
Da coragem dos ameríndios.
II
Era passagem de tropeiro
De viajante, mascate solitário
Pessoas ganhando seu honesto dinheiro
Molhando-se no frio orvalho.
III
Vieram os desbravadores
Fundaram nossa Ibitupã
Com seus poucos valores
Lutando a cada manhã.
IV
Na política só submissão
Contentando-se com migalhas
Política arte da corrupção
Isso de agradam canalhas?
V
Depois vieram os poderosos
Apoderar da nossa riqueza
Com seus jagunços criminosos
Acabando com a selvagem beleza.
VI
Então veio ''Mané Leonço´´
Homem de grande poder
Munido de terrível jagunço
Desmandando a seu bel-prazer!
VII
Filhinho acabou sendo morto
Por um pedaço de terra
Jagunço sedento e louco
Iniciando uma horrível guerra!
VIII
Foi cercado Candinho
Foi um tiroteio arretado!
Preso dentro do armarinho
Jagunços pondo fogo pra todo lado.
IX
Tudo se resolvia na bala
Terra sem lei vida Severina
Quem tinha juízo se calava
Ou morreria na boca da carabina.
X
Desde quando eu era criança
Saia na linda procissão
A cantar, tendo fé e esperança
Pedindo a São Roque intercessão.
XI
Desde quando eu era criança
Jamais fui a Budapeste
Ó que belíssima festança
São Roque livre-nos da peste.
XII
Em Agosto lá para o dia Dezesseis
A festa é comemorada
Aonde vai pobre e burguês
Minha singela morada.
XIII
E lá para o final do mês
Chega a Festa de Largo
Patrão torna-se freguês
E os fiéis saem do armário.
XIV
Tem a afamada Cavalgada
Um monte de atrações
E os amantes da Vaquejada
Demonstram suas emoções.
XV
Vem pessoas de todos os Estados
São três dias de alegria
Pra curtir a Festa de Largo
Em Ibitupã Bahia!
XVI
Terra de poetas ocultos
Artistas que não tem valor
Lugar dos cantores mudos
Ao invés de teatro, só ator.
XVII
Tivera “Explosão do Momento”
Hoje caminhando “Nazzueira”
Apenas, contudo lamento
Ver algazarra, bobagem e bebedeira.
XVIII
Terra de Péricles Kinho
Inspiração de Leandro Bahiah
Artista sem palco, sozinho
Feito cantor sertanejo sem par.
XIX
Venha pra Ibitupã passear
E verá como é gostoso
E com um ibitupaense namorar
Não se esqueça de banhar-se nas águas do Rio Novo.
XX
Conheça a bondade da nossa gente
Visite a Ponte do Criminoso
Conheça a solidariedade da nossa gente
Não se esqueça de banhar-se nas águas do Rio Novo.
XXI
Faça um piquenique
Na intrigante Serra do Mone
Aqui ninguém faz trambique
Lá onde à lua cheia se esconde.
XXII
Caso queira conhecer outro lugar
Ouvir lendas de caça ao tesouro
Você não irá se desanimar até encontrar
A abençoada Região do Ouro.
XXIII
Tem ainda o nosso Garapa
Cheias de pessoas humildes
Todo ano vão pra Bom Jesus da Lapa
Rezar pelas pessoas tristes.
XXIV
Se preferir ainda tem
A querida Serra da Lontra
Mas se nem tudo lhe convém
Apresento-lhe a Cabocla com muita pompa.
XXV
Hoje ainda tem escravidão
Em algumas fazendas ibitupaense
Trabalhadores vítimas de exploração
Cadê as autoridades Ibicuiense?
XXVI
Os trabalhadores são humilhados
Não tem jornada fixa de trabalho
Não tem horas extras e nem feriados
Só apenas um mísero salário.
XXVII
Infinito Deus o que irá acontecer
Com esses trabalhadores pobrezinhos?
Sem justiça a padecer...
Nas mãos destes fazendeiros mesquinhos.
XXVIII
Trabalhador cadê vossos direitos?
Oh, triste lugar da desinformação!
Brasil teus filhos são leigos
Uma grã vergonha para Nação.
XXIX
Porque quem tem informação
Ficam de braços cruzados
Fingindo que é normal esta situação
Rindo destes míseros explorados.
XXX
Quando presencio esta desgraça
É melancólico o meu desabafar
O meu insignificante grito sai de graça
E o carrasco vive só a enricar.
XXXI
Que azul penetrante celeste
Denuncie a autoridade competente
Não quero ser marionete
Servindo de espetáculo circense.
XXXII
O maior pecado é a omissão
Eu defensor dos humilhados
Peço coragem a Deus e ação
Porque os humilhados serão exaltados.
XXXIII
Sonho em tiver independente
Minha Ibitupã querida amada
Sendo caridoso com a minha gente
Jamais se esqueça da cicatriz sarada.
XXXIV
Amaremos os estrangeiros
Daremos valor aos nossos artistas
Pondo ordem aos desordeiros
Cantando canções antigas.
XXXV
Contarei tua saga
Em haicai, prova e cordel
Minha gente amada
Meu pedaço de Céu!
XXXVI
Eu bacharel da vida
Graduado na solução da dor
E que Nossa Senhora Aparecida
Faça com que tu enxergues o amor.
XXXVII
Pretendo criar os meus filhos
Perto da minha gente
Rever os meus amigos
E viver dignamente.
XXXVII
O progresso virá com certeza
Mas a passos de tartaruga
Preocuparemos com a Natureza
E não mudaremos de postura.
XXXIX
Lapidarei tua face
Denunciarei a tua injustiça
Onde o elo do enlace
Por Ti não abaterá preguiça.
XL
Tenha um feliz aniversário!
Uma belíssima manhã
Respeitando o adversário
Parabéns Ibitupã!
Leandro, parabéns pela linda poesia, ela relata com clareza o passado. Nasci em Ibitupa em 1930, de lá sai em 1945 e presenciei tudo que vc escreveu. Fiz também um vídeo sobre a origem de IBITUPA e cheguei a fazer também um cordel falando sore aquela época, Valeuuuuu..Valdi Cajaiba.
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